O lado trágico do casamento é a obrigação de partilhar. Essa obrigação de dividir todo santo dia… a cama, o banheiro, o sono, o café, o sorriso…
Alguns dias acordamos pra nós mesmos, acordamos para despertar pra dentro e não para expandir… nem para ser parte de nada!
Abrimos os olhos para olhar nosso próprio mundo e dele, só dele, extrair a luz pra viver mais um dia… aí vem o casamento e mete a mão no interruptor… e te obriga a dizer bom dia, a relatar como dormiu, a debater a programação do dia, negociar o menu do jantar… e pior ainda! Te obriga a contar seus sonhos!
Contar sonhos!
Ninguém deveria contar seus sonhos… gosto quando Nietzsche diz que “nada é tão nosso quanto nossos sonhos”… e mais ainda, adoro quando Salomé coloca que quando contamos um sonho já não é mais o sonho e sim a narrativa dele, ou seja, ele perde veracidade… Salomé… uma mulher avessa ao casamento, apesar de ter sido casada… Lou-Andreas Salomé conhecia toda essa tragédia da partilha compulsória… e além disso conhecia profundamente a alma humana. Imagine! Amiga, colaboradora e musa de Freud e Nietzsche! Nunca vão te dizer isso mas muito da obra destes homens veio desta mulher fantástica que negou pedidos de casamento de ambos!
É… a obrigatoriedade de partilhar é mutiladora, te priva de ser acordada pelo seu próprio silêncio e ser levada por ele, pouco a pouco ao mundo real…
Felizes são aqueles que se extasiam logo cedo com uma xícara de café! Acordam, se dopam e nem sentem a parte que caiu no chão! Seguem… partilhados, partidos, pedaços de até que a morte os separe… Mais trágico que as trágicas mortes dos jornais…
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