Nessa vida, passei mais tempo comigo do que com qualquer outra pessoa, mesmo assim sou um assombro pra mim mesma.
Continuo matando em pensamento todas as pessoas que amo, num ritual mental-imaginário que ainda hoje não sei se abraça o despreendimento ou se simplesmente é um traço de morbidez aguda.
Já assassinei, velei e enterrei tanta gente que segue viva até hoje que se soubessem me denunciariam. Quanto a mim, também já me assassinei, velei e enterrei umas tantas vezes mais.
Não! Não se trata do prazer de tirar a vida, até porque não me envolvo com a causa mortis do assassinado, diz respeito a sentir a perda, chorar a despedida, viver o luto… é experimentar a ausência definitiva de alguém que ainda está alí.
Amar é difícil, preciso matar pra amar. Matando as pessoas que amo me sinto mais à vontade com elas, me sinto mais forte e mais disposta a jogar vida em cima delas, porque já conheço a dor da perda, e o medo de viver sem elas quase desaparece.
Queria um dia amar sem ter que matar. Mas acho que foi a única forma que encontrei de me fazer entender a inconstância da vida aqui na Terra, de entender que a vida é só a vida, quem manda mesmo é a morte… não temos o controle de nada….e assim, viver o amor com a intensidade que se deve, pelo simples fato de que somos mortais!
Talvez um dia faça análise e pare de matar, porque deixar de amar não creio que esteja a meu alcance… mas enquanto isso preparo o próximo enterro ou até talvez me mate de novo ainda hoje.
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