Não existe amanhã…
Amanhã será um grande dia triste
como o dia de hoje.
Amanhã, vou chegar perto daquela arvore
ao lado do rio, e de qualquer modo
me matarei.
Não importa o que os amigos vão dizer
nem a decepção que Augusto meu grande
e maior amigo vai ter.
Talvez eu precisasse dizer aos outros
muita coisa, mas seria inútil porque
nem o homem, nem a mulher amiga,
haveriam de realizar o sentido imenso
dessa minha conclusão.
Eu desejei amigos e livros: Tive
Desejei amor, também tive…
apesar de ele nunca me ter dito.
Amanhã desejarei morrer.
Mas vou morrer sem barulho, docemente
e ninguém vai descobrir o quanto eu
compreendi para chegar ao final.
Escutem, meus amigos: A morte é grande
muito grande, imensa, e se todos
compreendessem, haveriam de morrer
sem barulho, docemente como eu.
Vou matar-me amanhã.
E que dia comprido o dia de hoje.
Hilda Hilst
👍👍
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Nossa… A última frase me causou um impacto que preciso comentar… A serenidade de encarar a ação proposta para o dia de amanhã contrasta com a ansiedade do entendimento superficial do dia comprido de hoje…
Não sei… Mas esse dia de amanhã ficou simbólico demais como um futuro distante enquanto vive o hoje… Diariamente… Será?
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Pois é… sinto o mesmo quando leio e chego ao final, ontem mesmo discutia isso com um amigo… e lendo no livro é mais impactante essa ideia, porque as duas ultimas frases estao virando a pagina, entao vc lê, vira a pagina e ta lá: vou matar-me amanha. E que dia comprido o dia de hoje.
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