A angústia em imagens | Autorretratos de Francesca Woodman

Uma experiência visual intensa, assustadora e comovente. Um retrato íntimo da angústia e da dor de existir foi o que nos deixou a fotógrafa americana Francesca Woodman, antes de suicidar-se, aos 22 anos de idade.

Musa de si mesma, Woodman começou a autoretratar-se aos 13 anos. Filha de um pintor e uma escultora, a jovem estava obcecada pelos corpos e pela dor que carregavam dentro. Para materializar o que via, a fotógrafa poetizou entre a fotografia e a performance, clicando o movimento dos corpos e fusionando-os com os ambientes, criando uma atmosfera enigmática e muitas vezes assustadora… como a vida, e a dor de existir dentro dela.

Com retratos em sua maioria em preto e branco, utilizando como modelo ela mesma e seus amigos mais íntimos, Woodman buscava cenários decadentes, casas em ruínas e edifícios abandonados para contar em imagens suas histórias da alma; a depressão, os desencantos amorosos, as perturbações psicológicas e o suicídio.

Apaixonada pela literatura gótica, muitas de suas imagens recriam essa estética romântica y lúgubre. Rostos ocultos e corpos femininos que se fundem com as paredes, que buscam-se em espelhos, portas e solos em avançado estado de deterioração… como a alma, corroída pela angústia e pela implacável violência da vida que nos empurra para morte na velocidade lenta e corrosiva do aprendizado.  


Mulheres, sempre, o feminino era seu espelho. Analisando a obra deixada por Woodman, salta ao coração uma mulher em busca de si mesma, se encontrando e se perdendo…e ludibriando a dor desse desencontro com uma arte provocativa, apaixonada e dramática.

Na intimidade, a imagem de frágil e introvertida é desmontada pelos que a conheceram, que a descrevem como uma garota carismática, excêntrica, provocadora, apaixonada e dona de um senso de humor dramático e peculiar. Quando questionada, ainda na universidade de Belas Artes, sobre o que pretendia mostrar com seus autorretratos, Francesca Woodman respondeu:

“Mostrar o que você não vê, a força interna do corpo”

O corpo suportou 22 anos antes de perder por completo sua força e ganhar o infinito, mas antes disso Woodman nos deixou um dos mais poéticos e intrigantes retratos da depressão e da angústia. Um impressionante registro do eu, pulsando para vir a tona… enigmático, doído, trágico

Francesca Woodman se atirou da janela do edifício onde morava em Nova York no ano de 1981, acabava de cumprir 22 anos. Toda sua obra foi realizada em pouco menos de uma década, a fotógrafa nos deixou 10.000 negativos e 800 fotos impressas, das quais apenas um quarto veio a público até os dias de hoje.

A jovem Woodman inspirou e segue inspirando importantes fotógrafos e artistas, é estudada e cultuada como umas das grandes fotógrafas do século XX, sua obra está viva em exposições por todo o mundo.  

“Como pode alguém tão jovem criar imagens de tamanha potência e complexidade?”, pergunta-se Anna Tellgren, do Moderna Museet de Estocolmo, curadora da última exposição da fotógrafa na Europa.

Difícil responder a esta pergunta… Talvez Francesca Woodman seja um enigma indecifrável. Nos deixou um retrato íntimo de uma alma atormentada, expandindo e retraindo para manter vivo o corpo e buscando revelar a alma na arte. Uma menina, uma fotógrafa, uma mulher… um enigma.

 

A ação que antevejo não tem nada se melodrama. É que a vida vivida por mim agora é uma série de decepções… eu era, não única, mas especial.

É por isso que eu era uma artista, eu estava inventando uma linguagem, para que as pessoa vissem as coisas do cotidiano que também vejo e mostrar a elas algo diferente.

Nada a ver com não ser “aceita” na cidade grande, com autocríticas ou porque meu coração se foi, e nada de ensinar uma lição a alguém, exatamente o oposto.

Das últimas anotações do diário de Francesca Woodman

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