Tag: amor
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Mato tudo que amo
Nessa vida, passei mais tempo comigo do que com qualquer outra pessoa, mesmo assim sou um assombro pra mim mesma. Continuo matando em pensamento todas as pessoas que amo, num ritual mental-imaginário que ainda hoje não sei se abraça o despreendimento ou se simplesmente é um traço de morbidez aguda. Já assassinei, velei e enterrei…
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Amar é desejar
No fim das contas tudo é fome. Tudo é desejar e saciar. Não há nada além disso. Quem acredita que esta vivendo algo grandioso é so esperar a hora da fome! Quem disse que não somos escravos de nossa natureza? Somos tão animais como um gafanhoto! Espera chegar a fome e verá no que ela…
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Quando a tempo não acabava
Fomos amantes desde que nos conhecemos. Na Amazônia durante um evento. Ele estrela, eu produtora. Inevitável, estava destinado. Paixão de primeira olhada. Fomos literalmente acorrentados pelo tornozelo. Só saltei porque era ele, porque era com ele… Dali pra frente tivemos uma relação única (pelo menos pra mim nunca se repetiu) nos encontrávamos por aí, Rio,…
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Costurada na saudade
Costurada na saudade, me dá medo gestos bruscos. Até certos movimentos me fazem pensar duas vezes. Não, não é medo, é aflição mesmo. Aquele ruído das linhas se rompendo me aflige… é insuportável. Me sinto como Sartre quando a náusea o impedia de vislumbrar um novo amor… aquele abismo que ele não estava mais disposto…
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Me transplanto
Fui feliz no amor e tive sorte no jogo… mas acho que a vida cansou… foi um dobrar de esquina e o feitiço acabou! Não existe hoje no mundo criatura mais normal que eu… Acabaram os mistérios, a magia, os sonhos… me transplanto num corpo que levanta e segue… apático, apátrida, amorfo… antes só do…
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Até quando Nietzsche?
Quando Nietzsche nos diz: torna-te quem tu es, ele está falando de rupturas. Temos que nos desvincular da familia que nascemos, das religiões que nos impuseram, das verdades criadas pela doutrinação filosófica e principalmente nos libertar do pertencimento amoroso. Só nos tornamos o que somos quando conseguimos nos distanciar de tudo que nos formou, de…
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O quinto estigma
Quando deixei a primeira casa tinha os punhos perfurados, sangrava por eles todos os sonhos do amor romântico. Depois me cravaram uma coroa de espinhos… meus pensamentos ficaram confusos… nesse amor perdi um pouco da identidade e até mesmo da razão… mas de lá consegui sair em pouco tempo. Um pé sobre o outro, estive…
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Cama e comida
Só consigo pensar em duas coisas, cama e comida, não quero sombra nem água fresca. Saio de casa três vezes por dia. As três pra comer. Quando volto, contaminada pela humanidade, penso em fazer algo, qualquer coisa, poderia fazer tantas coisas. Tenho muitos livros novos, posso desenhar, posso começar o jardim, lavar o banheiro, ver…
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Coração baldio
Não quero mais o amor. Quero uma paixão em cada porto. Quero ilusões, sonhos e toda espécie de delírio consciente. Quero não ter mais dúvidas da finitude das sensações nem da eternidade das experiências. Quero obter e nunca mais ter… nem a mim nem a mais ninguém. Quero ser a mão que prepara o café…
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Não existe alegria sem dor
Ele diz que o abandonei. Sim, verdade… Fui embora no fim do verão… Mas levei comigo o amor. Nunca deixei de amá-lo, nem quando me apaixonei deixei de amá-lo. Sei que é difícil de entender, eu também não entendo. Somos feitos de tantos mistérios que seria muito ganancioso de minha parte, mesmo com toda filosofia…
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Armadilha
Tem pessoas que não são gente, são armadilhas. Daquelas que a vida arma bem no meio do teu caminho pra te desviar do rumo. E acredite, isso é glorioso! São essas armadilhas que te escancaram oportunidades pra realizações que você jamais chegaria se algo não te tirasse daquela velha e segura estrada do seu mundinho…
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Sepultamento
Quando um amor termina é uma viuvez como a da morte. Deveríamos ter o direito aos cinco dias em casa para cuidar do sepultamento e quando necessário, uma verba extra pra deslocamento… não precisa muito, qualquer três dias longe da casa, do quarto, da cama… já seria um alívio. É sobre-humano ter que bater ponto…
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Faringe
Bateu tanta punheta depois que a conheceu que deslocou o ombro. Devido a imobilização teve que começar a masturbar-se usando a mão esquerda. Como era canhoto a esquerda era a mão mais forte e não lhe servia, pois os orgasmos que tinha pensando nela, só podiam ser produzidos por uma mão leve, suave, como imaginava…
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Sete copos de lágrimas
sete copos de lágrimas derramadas… sete dias de escuridão e as luzes da cidade se acendem com a força de uma usina inteira… sete noites na prisão dos aflitos pra uma vida plena de liberdade… no fim das contas o que nos cabe é sempre agradecer… agradecer às pessoas sem caráter, que de seus labirintos…
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Só a noite me cura
Só a noite me cura. Passo o dia entre ganâncias e planilhas quase sem me alimentar. Espero o fim do dia como quem espera a endorfina. Sei que vai passar. Mas enquanto isso só a escuridão me alivia, só meu quarto me protege. Chego em casa, desligo o celular, como nos velhos tempos. Entro no…
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No dia em que me despedi
No dia em que me despedi, nada entendi daquela dor… daquele amor que enterrou todos os outros. Meu olhar de destruição… o seu, ruínas… frases que não tomaram forma porque inventaram aquela maldita palavra que nos isenta de tentar compreender: inefável! I-ne-fá-vel… Ainda morro de vez em quando tentando achar o gatilho… encontro, e justo…
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Não choro sempre, só quando tenho fome
não choro sempre, só quando vem a fome. ela começa arranhar meu estômago e sou obrigada a sacia-la… aí então, percebo que não há mais vazio que esteja a meu alcance soterrar, e inundo. prefiro chorar no chuveiro. embaixo do chuveiro tenho a impressão de que hoje, choro menos que ontem. agarro a toalha. sempre…
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Imortal até o dia de minha morte
sou imortal, até o dia de minha morte… e assim vivo cada segundo, de costas para o muro… aquele mesmo muro que Sartre cravejou de balas de espingarda… aquele mesmo muro que manteve despertos numa cela três homens e um belga… aquele mesmo muro que separou vivos-mortos de vivos-vivos… sempre quis saber o que tinha…
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Às vezes é preciso perder um olho pra enxergar
As vezes precisamos perder um olho pra poder enxergar. No meu caso perdi os dois e agora só entendo braile. Não enxergo nada de longe. Tenho que me aproximar, tocar, sentir cada poro pra poder ver. Mas como aproximar-se é arriscado prefiro ficar por aquí. Me distraio com o vento, com o cheiro do café,…
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Uma fraude chamada Eu Te Amo
Fico sempre na dúvida quando escuto um Eu Te Amo. É pra mim? Ou é a necessidade do outro de usufruir da palavra amor? Ele acordava e já me amava. Por todos os meios chegavam corações, musiquinhas de Caetano, beijinhos de amor e claro, o famigerado Eu Te Amo, com seus derivados, que ele usava…
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Coleira
Me compro uma coleira Nos ato os pés Me atiro ao vento Nos faço voltar O céu só é azul durante o dia Quem pede socorro afoga a dúvida Melhor silenciar e esperar… Quem inventou o amor? Um diabético Um caolho Um leproso Não… não é sobre amor É sobre verdades Não é mais sobre…
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Não existe amanhã pra quem tem fome
Quando o homem inventou a roda nos condenou a eterna escravidão… nos conduziu ao mundo dos pecados. Tentaram incriminar a Eva. Eva tinha fome. Eva tinha dentes. Eva tinha a maça… E como falar em futuro, em pecado, em paraíso com quem está faminto? Não existe amanhã pra quem tem sede, não existe futuro pra…
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No eres tu, soy yo
Amo a ti porque no puedo amarme a mi misma. Te deseo porque no soy suficiente para despertarme. Te juzgo porque ya estoy condenada. Quiero hasta sus defectos Porque mi perfección me ciega. Si me acerco a tu pecho, es para alimentarme del sonido de un corazón sano… Si te liberto, es para aprisionarte en…
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Uma cova aberta
Acordou morto. Fazia dias que não aparecia na mercearia para comprar tabaco. Café não bebia há semanas e o jornal se erguia em pirâmide no capacho da porta. A vizinhança notava mas ninguém se animava a trocar palavra, já tinham visto esse proceder outras vezes. Parecia-lhes que de tempos em tempos Agenor Poeta vivia em…
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Da morte nasci
hoje de manhã quando vomitei meu coração pensei que meu corpo perderia a força, despencaria ao solo e agonizaria até que os olhos fechassem e a respiração cessasse… mas não, a vida persiste, aguda e chorona, soberba e gananciosa querendo mais e mais e mais… sem coração, algo me toca o céu da boca… meu…